quarta-feira, maio 28, 2008

XXIII Jornada Diocesana da Juventude

A vida, este palco mágico da existência tem novo sentido e novo valor quando experimentamos a plenitude da felicidade, em que o nosso coração deixa de caber dentro de nós. Pois, foi exactamente isso que senti, quando na manhã do dia 17 de Maio, cheguei a Cujó- Castro Daire e me confrontei com o palco da jornada.
Nesta manhã foram os elementos do secretariado, alguns jovens da terra que acolheu a jornada e alguns animadores os primeiros a chegar ao local. Foram distribuídas tarefas e cada um ocupou o seu lugar, dispondo-se a dar o melhor de si para permitir a cada jovem a vivência de um dia inesquecível.
Os primeiros grupos de jovens começaram a chegar por voltas das 9:30. Propunham-se partir, fazendo caminho com objectivo claro, determinado e aliciante de chegar à meta, ao local do banquete, ao palco da alegria e da comunhão plena.
Assim foi-se sucedendo a chegada de todos os grupos e fizeram “caminho”. No caminho (percurso realizado pelos jovens até ao alto do Sr. da Livração) eram propostas várias actividades que visavam a reflexão, o recolhimento, mas também o convívio, a diversão, o espírito de grupo.
Este percurso foi alegremente dinamizado por alguns animadores juvenis, alguns jovens da terra e elementos do secretariado, mas contando sobretudo com a alegria de juventude de dezenas de jovens.
À medida que os grupos iam chegando dos diferentes pontos da diocese, a alegria, a animação, o entusiasmo, a expectativa, a força, o “ser jovem” de cada um, dando vida àquele caminho e magia ao seu caminhar.
Foram muitos os jovens que experimentaram partir nesta “aventura” fantástica e fazer daquela encosta um caminho de alegria, durante alguns minutos.
Mas, como em tudo na vida, todo o caminho implica uma chegada, uma meta. Assim foi, no final da daquela manhã, foram largas as dezenas de jovens que alcançaram a pretendida meta, onde o Pai a todos esperava de braços abertos, abraçando cada um com uma ternura e um amor incomparáveis e incalculáveis. Eis que, depois do cansaço da caminhada, a nossa fome e sede foram saciadas na Sagrada Eucaristia, que foi presidida pelo nosso querido Bispo, D. Jacinto.
A Eucaristia foi assim, o primeiro prémio para cada jovem, depois de um percurso em que todos chegaram vencedores.
A Eucaristia é aquele momento, pleno de encontro, de partilha, de comunhão, de magia, de graça… todas as palavras que possa utilizar para tentar descrever o que foi a “nossa Eucaristia” serão pequenas, redutoras… foi mágico, foi maravilhoso. É lindo ver tanta juventude, tantos rostinhos encantados, tantos corações apaixonados, tantas vidas generosas… e como explicar o bater acelerado dos nossos corações?! Estávamos pois perante o altar, prontos a ser semente lançada e a dar o fruto que o Criador desejar. È comovente sentir a força da vida da nossa juventude, esta vida que é dom e dádiva. A Eucaristia foi decorrendo e a cada instante nos sentíamos mais tocados pelo sopro de vida que o Espírito que invocávamos lançava sobre cada um de nós. Guardamos no coração a palavra de Deus e em seguida escutamos atenta e emocionadamente as palavras que o Senhor Bispo nos dirigiu com tanto carinho, entusiasmo e confiança. No momento de Acção de Graças, o nosso coração transbordou de alegria por poder agradecer ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo a vivência daquele momento único e irrepetível. Terminada a Eucaristia habitava em nossos corações uma certeza “ é bom estarmos aqui, quero falar de Ti a cada irmão”. Estou certa que tal como aconteceu com os apóstolos há mais de dois mil anos, também sobre nós desceu o mesmo Espírito que fará de nós discípulos e testemunhas até ao fim dos tempos!
A hora de almoço era a “etapa” que se seguia… e que bom que foi. Era muito bonito o cenário que se vislumbrava na hora de almoço, naquele local, muitos grupinhos bem juntinhos, davam aquele monte vida e alegria.
De tarde houve lugar para jogos tradicionais e também para apresentações feitas põe vários grupos. A animação foi constante.
Para terminar em beleza este dia maravilhoso, a oração do envio foi o desafio proposto. Neste momento além das graças que damos ao Bom Deus por tudo o que nos deu, sentíamos a necessidade de nos comprometer com Ele e ser ousados e determinados no momento de O seguir e anunciar, permanecendo determinados no momento da partida, certos do caminho que temos para percorrer e seguros que chegaremos ao coração de todos aqueles a quem mostramos com a vida a força da nossa fé, do nosso querer e do nosso amor.
Venha a próxima jornada, em Resende!...
Jovem, Cristo conta contigo!
Vem Experimentá-Lo connosco!

quinta-feira, abril 17, 2008

Criancinhas

A criancinha quer Playstation. A gente dá.
A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.
A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em
festim de chocolate.
A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Colas, às
litradas. A gente olha para o lado e ela incha.
A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito
como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.
A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe
o comando.
A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.
Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.
Desperta.
É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta
metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.
A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la
porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.
A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com
os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à
frente na mota, no popó e numas férias à maneira.
A DEVIDA COMÉDIA
Miguel Carvalho
A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência
meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em
sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são
«uma seca».
Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha
que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica
traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc e tal.
Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as
criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter
do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem
dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho
sou eu».
A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na
casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas
ao menos não anda para aí a fazer porcarias».
Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas,
das famílias no fio da navalha?
Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao
hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos
congressos e debates para nos entretermos.
Artigo publicado na revista VISÂO online